Antes de começar: Esse post eu criei em 2017 no Medium, mas ele continua atual, ainda mais em relação com o meu recente diagnóstico de que tenho TDAH e sinais leves de TEA (Transtorno do Expectro Autista). Eu ainda estou assimilando tudo isso, mas no futuro quero escrever mais sobre. Até lá, espero que esse post traga uma boa reflexão desse mundo que exige de nós uma alta performance a todo momento.
Na vida, sempre temos algo que nos angustia, nos chateia, e que queremos superar ou melhorar, e o que me deixa mais chateado é a minha atitude em procrastinar as coisas, o clássico “empurrando com a barriga”. Mas hoje não fico tão triste com isso porque vejo que isso é algo que vem de mim. Isso prejudica com certeza, mas como tudo na vida, temos que pegar o lado bom de tudo.
Se a vida te der um limão, faça uma limonada!
Quem me conhece, sabe que uso qualquer tipo de ideia ou ferramenta que me ajude a ser mais produtivo. Um tempo usei o pomodoro, que é um ótimo timebox para estudos, e qualquer tipo de tarefa que precise de foco, e hoje uso o GTD para armazenar e controlar todas as tarefas do meu cotidiano. Para quem consegue finalizar todas as suas tarefas que aparecem, pode achar isso loucura, mas eles me salvam tem 4 anos. Mas como nada é uma bala de prata, tenho recaídas, e elas geram desânimo e até breves momentos de depressão. E para quem tem um certo nível de TDAH, sabem que essas coisas intensificam, por mais banais que sejam.
Fazendo minhas leituras entre livros de História, Programação e Política, esses dias acabei lendo um livro chamado A Arte da Procrastinação — Como Realizar Tarefas Deixando-as Para Depois porque sempre gosto de encontrar algo que possa melhorar meu desempenho. Achei o título interessante e fiquei meio desconfiado, mas comecei a ler. O interessante é que tive uma surpresa meio óbvia mas que não nos tocamos: não sou o único. É idiota pensar nisso, mas por favor, todo mundo tem esse questionamento com qualquer defeito que encontra em você mesmo.
Ele trouxe alguns pontos que todo procrastinador vai se identificar. Quero descrever alguns deles.
Muitas tarefas sendo feitas, mas suas prioridades são questionáveis
Tarefas sempre vão aparecer e serão várias, mas conseguimos fazer muitas delas. Mas será que realmente era necessário finalizá-las agora?
Meu fracasso mais sério, em termos desse ideal, é a procrastinação. Em 1995, por não trabalhar em algum projeto ao qual deveria estar me dedicando, comecei a me sentir mal. Mas aí notei algo. No geral, eu tinha a reputação de alguém que fazia muitas coisas e contribuía de forma razoável com a Universidade de Stanford, onde eu trabalhava, e com a disciplina de filosofia, que era meu campo de ensino. Um paradoxo. — Perry, John
Quantas vezes ficamos nessa situação? Muitos projetos na cabeça, mas nenhum concluído, mas por outro lado, outros tipos de trabalhos fazemos. O John definiu como um procrastinador estruturado.
Entendi que eu mesmo era o que chamei de procrastinador estruturado: uma pessoa que faz muito ao não fazer outras coisas. — Perry, John
Ou seja, somos profissionais em fazermos muitas tarefas, mas nos deparamos com o fato de que não eram realmente importantes, que não estavam na categoria da prioridade máxima. O mais interessante é que o livro não traz métodos para buscarmos o nosso melhor para acabarmos com isso, coisa que existem em muitas outras obras por ai, mas termos atitudes que possamos conviver e usar esse problema ao nosso favor, fazendo com que a coisa mude de figura.
Todos os procrastinadores adiam as coisas que precisam fazer. A procrastinação estruturada é a arte de fazer esse traço negativo trabalhar por você. A ideia central é que a procrastinação não significa que você não vai fazer absolutamente nada.
Procrastinadores raramente não fazem absolutamente nada; eles fazem coisas marginalmente úteis, como jardinagem, apontar lápis ou criar um diagrama de como vão reorganizar seus arquivos quando se decidirem a iniciar. Por que o procrastinador faz essas coisas? Porque são uma forma de não fazer algo mais importante.
Se tudo que o procrastinador tivesse de fazer fosse apontar lápis, nenhuma força na Terra o obrigaria a fazer isso. O procrastinador pode ser motivado a fazer tarefas difíceis, convenientes e importantes, desde que essas tarefas sejam uma forma de não fazer algo ainda mais importante. — Perry, John
Ele mostra que com a procrastinação estruturada, podemos moldar a forma que definimos as nossas tarefas “para fazer de uma forma que se explore esse fato”. Tentamos minimizar os nossos compromissos ao básico, pensando que vamos conseguir fazê-los. Pode funcionar por um momento, mas depois vem aquela decaída novamente, que é a nossa autosabotagem. Ele fica pairando sobre você, enquanto consegue um maravilhoso momento em que está produzindo, sendo útil para a sociedade, mas qualquer descuido, ele nos ataca. Volta todo o sentimento de inutilidade e desânimo. Entenda, ele vai estar sempre ao lado querendo acabar com seu desempenho, mas precisamos aprender a usar a nosso favor.
O truque é pegar o tipo certo de projetos para pôr no alto da lista. A espécie ideal de tarefas tem duas características. Primeiro, elas parecem ter prazos claros (mas realmente não é assim). Segundo, parecem incrivelmente importantes (mas realmente não são). Felizmente, a vida está cheia de tarefas assim. — Perry, John
E é verdade. Quem nunca retomou pela enésima vez para sua lista de afazeres, e depois queremos definir suas prioridades, mas com o tempo acaba que todos são urgentes? Por mais que ninguém aceite, nem toda tarefa vai ter sempre um prazo claro e vai ser importante. Para nós são tarefas e pronto. Mas o que fazemos quando vier o sentimento de fazer para depois?
Preencha o “fazer a tarefa para depois”, colocando outra tarefa
Sempre faça uma tarefa
Sim, é isso mesmo. Quando você olha para uma tarefa, e bate aquele incômodo de fazer e em sequência vem o desejo de fazer depois, procure outra tarefa na sua lista diária e faça. Isso evita o problema de criar tempo ocioso aonde não pode ter, e não fica com aquele sentimento que não fez nada no dia.
Se encontrou tarefas que só aumentam o desejo de adiá-las, quebre em pequenas partes
Faça em partes
Dividir para conquistar ou dividir para reinar, já dizia César. Se uma tarefa que definiu é assustador suficiente para desanimar, quebre em pequenos passos. Assim, alivia o sentimento de adiamento, focando um item de cada vez (dica: use o pomodoro para focar em cada passo), que no final do dia vai ver o seu progresso e vai se sentir feliz com isso.
O perfeccionismo é o amigo da procrastinação
Não quer dizer que você não pode buscar a fazer o melhor, mas o que estou dizendo é simplesmente faça. Porque o perfeccionismo que temos, é do tipo fantasioso.
Acho que perfeccionismo leva à procrastinação. Demorei para ver a conexão entre os dois, porque não me vejo como perfeccionista. Muitos procrastinadores não percebem que são perfeccionistas, pela simples razão de que nunca fizemos nada com perfeição, não chegamos nem perto disso. — Perry, John
Eu sou perfeccionista em muitas coisas que faço, e depois de fazer uma auto-análise, vejo que acabo perdendo tempo pensando nas melhores formas de fazer algo, do que simplesmente começar, e depois melhorando com o tempo. É o que meu colega Henrique Bastos já falou em um curso de desenvolvimento de sistemas com Python e Django que fiz com ele. Ele chamou isso de síndrome do astronauta.
Nós programadores temos ou tivemos o síndrome do astronauta. Ficamos pensando na melhor solução, planejando e quando vemos estamos no mundo da lua. Bastos, Henrique (com modificações)
E vejo que isso não se limita a minha área, mas a todos os procrastinadores. Então controle o seu perfeccionismo, faça o que precisa ser feito mesmo não estando do jeito que gostaria. Depois, analise o que criou e melhore. Recomendo que estudem sobre Kaizen.
Nunca desista das suas listas de tarefas. Mesmo!
Tenha uma lista colado em você.
Falamos de como podemos lidar com as tarefas, mas vamos sempre precisar de listas. Não confie na sua mente, um hora aquele pedido que recebeu do seu chefe vai ficar entulhado no emaranhado de idéias que sempre surge na sua mente, então procure uma melhor abordagem para você. Eu hoje uso o GTD (Getting Things Done) idealizado por David Allen, e recomendo que faça uma breve leitura sobre ela. Mesmo que você não use a metodologia 100% (coisa que ela não exige, pode começar aos poucos), ela pode trazer bons insights para o seu worfklow.
O importante é que ela esteja sempre com você, e a cada compromisso que venha ao seu encontro, coloque nela. Não se preocupe caso acabar esquecendo da lista, mas quando lembrar, pegue-a e tente novamente até não conseguir mais ficar sem ela.
Respeite o seu ritmo
Cada um tem o seu ritmo, saiba o seu e respeite-a.
Todos são diferentes, inclusive o ritmo em produzir algo. As vezes queremos acelerar para fazer o máximo possível em menos tempo, e isso para um procrastinador é um veneno, no início. Antes faça no seu ritmo, porque caso forçar demais poderá acabar abandonando o que estava fazendo. Quando sentir que pode aumentar sua velocidade, faça. As vezes é melhor fazer algo no seu tempo e terminá-la, do que fazer ligeiro e ficar pela metade.
Use o computador e a internet com sabedoria
Computador e Internet veio para ajudar, e não atrapalhar.
Talvez para alguns não é um problema, mas para mim é uma das grandes. Eu desenvolvo sistemas, e o computador e a internet são ferramentas essenciais, para consulta, estudo, download, etc. E preciso tomar o cuidado de não cair na tentação de acessar e-mails além do normal e redes sociais, e pior, durante a pesquisa entrar no caminho infinito de links dentro de links, que no final absorvi informação além do que preciso.
Para sanar esse problema, acabo usando ferramentas em navegadores para bloquear certos sites durante momentos em que preciso de foco. Para quem usa o Chrome recomendo a extensão Stay Focusd que você pode configurar o intervalo de tempo e quais sites deseja bloquear.
Outro que gosto de usar, é o Rescue Time que é um serviço que monitora o tempo que gasta em cada aplicação no seu desktop, como também em cada site na web. Você pode classificar cada um deles como produtivo ou não, e depois recebe por e-mail um relatório semanal do tempo gasto e quanto tempo foi produtivo ou não. Acho legal, porque vejo quais sites que não estão na lista e atualizo. São ferramentas que vão ajudar, mas o mais importante é você fazer sua parte.
Atualizado (11/01/20): Depois de alguns anos depois desse post, eu e toda a Sociedade passou por situações no mínimos bizarras na Internet, principalmente nas Redes Sociais, que tornou a discussão sobre política e tudo mais em um extremo cada vez pior, graças as bolhas que vivemos. Diante dessa selva digital, precisamos nos condicionar a ter um comportamento adequado não só no mundo real. Mais uma vez o Henrique Bastos, trouxe alguns insights necessários hoje e sempre sobre como levdar com essa selva binária:
12 regras para sobreviver na selva da Internet
A internet eliminou as distâncias, mas ainda não sabemos superar o ruído. Descubra como sobreviver e aproveitar o que a rede tem de melhor.
Fique ao lado de pessoas que te ajudem a crescer
Sempre temos alguém que nos quer bem
Procrastinadores que recebem apoio de pessoas que querem o seu bem, é sempre importante. Elas ajudam a criarmos um “compromisso público” de que temos que fazer algo. Já trabalhei em projetos com alguém que um vigiava o outro nas tarefas que fazíamos (de forma saudável claro, sem exageros), e que trouxe ganhos. Assim, se puder contar com algum amigo, colega de trabalho ou alguém da família para acompanhar na sua jornada, junte-se a eles e vai ver os frutos disso.
Se alguma tarefa pode ser feita por outra pessoa, delegue-a na medida do possível
Delegue, mas com bom senso.
Aqui é preciso um bom senso. Não quero dizer que deve sempre jogar suas responsabilidades para os outros, mas se alguém pode ajudar você a terminar alguma tarefa, e ela tenha capacidade de fazer isso sozinha sem a comprometer, delegue. Isso vai ajudar a tornar sua lista diária menos, e consequentemente vai esvaziá-la no fim do dia. Por outro lado, sempre acompanhe a pessoa que te ajudou, caso precise de algo, porque como falei é uma questão de bom senso.
Procrastinadores irritam outras pessoas, então mostre para elas como é difícil ser assim
Mostre sua visão de mundo para outras pessoas.
Eu sou casado, e minha esposa precisa de muita paciência comigo, porque acabo esquecendo de fazer o que precisa, não presto atenção algumas das vezes porque uma idéia surgiu na minha cabeça na hora, e quando vai ver estou sendo puxado de volta com uma reclamação dela. Temos que ter a consciência que nós irritamos pessoas que não são procrastinadoras, seja esposa ou marido, familiares, colegas de trabalho, etc. Mas o que eles não sabem é que isso nos entristece. Ficamos chateados quando esquecemos ou não fazemos algo que foi pedido, ou quando perdemos o prazo e que isso tudo está prejudicando alguém. Quando acontece, volta o momento desmotivação. Quantas vezes em final de ano vem aquele desapontamento de que não conquistou praticamente nada?
Então, converse e mostre o seu lado nisso tudo. Eu sempre converso com as pessoas que convivo sobre o meu problema, e como procuro melhorar para que isso não afete ao meu redor. Mostre que mesmo quando as deixamos estressadas, não é nossa intenção, e que buscamos o máximo para consertar e evitar isso. Assim, em algum momento vão entender e talvez possam refletir nisso, para que caso isso aconteça possam ter um pouco de paciência e ajudar a sairmos do outro lado. Então, converse e procurem entrar em consenso na medida do possível.
Desistir é natural, mas continuar na desistência é burrice
Just do it!
Sempre vai vir momentos em que vamos desistir em lidar com a procrastinação, é comigo e vai acontecer com você. Mas o que não devemos deixar, é que isso continue. Então, volte e repense no que fez, procure ser melhor um dia de cada vez.
Somos procrastinadores sim, mas podemos lidar com isso e vivermos bem. Bom deixa eu voltar na tarefa que deixei para escrever esse artigo. Até mais!